
Título Original
Título Brasileiro
SINOPSE
EQUIPE TÉCNICA
Diretor(a)
Roteirista
Produtor(a) executivo(a)
Produtor(a) executivo(a)
Produtor(a) executivo(a)
Música
Música
ELENCO
Francesco Dellamorte
Gnaghi
She
Marshall Straniero
Valentina Scanarotti
Doctor Vercesi
Claudio’s Girlfriend
Magda
Franco
New Mayor Civardi
Claudio’s Mother
Mayor Scanarotti
Luigi Ghigini
Claudio
Augusto Martin
Pia Chiaromondo
Hospital Nurse
Monk
Hospital Doctor
Franco’s Nurse
Hospital Sister
Man in City Square
Young Zombie
Gravedigger
REVIEW PITIZZO
Crítica Cinematográfica: Cemetery Man 1994 | Um Filme Cult Quase Dylan Dog
Nossa crítica de Cemetery Man de 1994 (ou DellaMorte DellAmore) começa com uma confissão: comecei a assistir a este filme sem grandes pretensões, conhecendo apenas superficialmente a mitologia de Dylan Dog e sua premissa de lidar com seres infernais e monstros. O que encontrei, no entanto, foi uma das experiências mais originais e fascinantes do cinema fantástico, tanto que o lendário diretor Martin Scorsese posteriormente declara este como “um dos melhores filmes italianos dos anos 90”.

Desempenho de Bilheteria e Recepção Crítica
Apesar de sua qualidade artística, Cemetery Man enfrentou uma trajetória comercial desafiadora. O filme foi lançado inicialmente na Itália em 25 de março de 1994, com um orçamento de aproximadamente US$ 4 milhões. Sua distribuição nos Estados Unidos ocorreu apenas em 1996, dois anos depois, de forma limitada. O resultado foi uma arrecadação doméstica (EUA e Canadá) de apenas US$ 253.986, com um fim de semana de estreia modesto de apenas US$ 22.459. A arrecadação mundial permaneceu praticamente idêntica aos números domésticos, refletindo a distribuição restrita que o filme recebeu.
Porém, quando olhamos para os prêmios e reconhecimentos críticos, a história é completamente diferente. O filme conquistou 9 vitórias e 11 indicações em festivais e premiações de cinema. Entre os principais reconhecimentos estão:
- David di Donatello (1994): Vitória em Melhor Cenografia (Migliore Scenografia) para Massimo Antonello Geleng
- Golden Ciak (1994): Vitória em Melhor Cenografia e indicação em Melhor Cinematografia
- Gérardmer Film Festival (1995): Vitória do Prêmio Especial do Júri e Prêmio do Público para Michele Soavi
- Fantasporto (1996): Vitória de Melhor Ator para Rupert Everett
- Málaga International Week of Fantastic Cinema (1997): Vitórias em Melhor Ator (Rupert Everett) e Melhores Efeitos Especiais (Sergio Stivaletti)
- Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films (1997): Indicação para Saturno Award – Melhor Filme de Horror
- Fangoria Chainsaw Awards (1997): Vitória em Melhor Filme Limited-Release/Direct-to-Video
Este contraste entre fracasso comercial e sucesso crítico consolidou Cemetery Man como um clássico cult, descoberto por gerações de cinéfilos através de home video e posteriormente em edições especializadas em mídia física.
Um Ritmo Fora do Convencional
Logo de cara, Cemetery Man se mostra diferente. Se você está acostumado com o ritmo acelerado dos blockbusters da Marvel e DC, prepare-se para uma cadência mais poética, atmosférica e, arrisco dizer, muito mais interessante. De forma positiva, o filme nos apresenta seu universo sem pressa. Somos imediatamente introduzidos ao protagonista, o coveiro Francesco Dellamorte (Rupert Everett), e seu fiel e peculiar ajudante, Gnaghi (François Hadji-Lazaro).
A rotina de Francesco é simples: enterrar os mortos. O problema é que, no cemitério de Buffalora, os mortos insistem em voltar à vida sete dias após o enterro, forçando nosso herói a se tornar um burocrático matador de zumbis. A inscrição em latim sobre o Cemitério de Buffalora diz “RESVRRECTVRIS” (literalmente “Para os que se levantam novamente”), uma escolha de design que evidencia a intenção metafísica do filme desde o primeiro quadro.
Influência do Material Original: O Romance de Tiziano Sclavi
Cemetery Man é baseado no romance Dellamorte Dellamore, escrito por Tiziano Sclavi em 1983 e publicado em 1991 na Itália. A adaptação foi realizada por Gianni Romoli para a tela. Tiziano Sclavi é um autor italiano nascido em 3 de abril de 1953 em Broni, Italia. Além de romancista, Sclavi é criador da famosa história em quadrinhos Dylan Dog, que se tornou um fenômeno editorial italiano ao ser publicada pela primeira vez em 1986 pela editora Sergio Bonelli Editore.
Na fase de ouro da série, Dylan Dog vendia aproximadamente 1 milhão de cópias por mês apenas na Itália, e Sclavi escreveu mais de 100 histórias do personagem. A revista ainda continua sendo publicada, consolidando Dylan Dog como um dos maiores sucessos dos quadrinhos italianos.
A Incrível Coincidência Cósmica com Dylan Dog
Muitos veem Cemetery Man como um filme “quase de HQ” ou um sucessor espiritual de Dylan Dog. A conexão é real, mas a verdade é muito mais interessante do que uma simples inspiração: é uma das maiores e mais felizes coincidências da cultura pop.

Vamos aos fatos e à cronologia:
A Criação de Dylan Dog (1985-1986): Ao criar o “Investigador do Pesadelo”, Tiziano Sclavi instruiu o desenhista Angelo Stano a modelar as feições do personagem com base em um jovem ator britânico: Rupert Everett, especificamente por sua aparência no filme Another Country (Prêmio de Traição) de 1984.
A Publicação do Livro (1991): Anos depois, Sclavi escreveu um romance de horror com outro protagonista, Francesco Dellamorte. O livro Dellamorte Dellamore foi publicado na Itália em 1991.
A Adaptação para o Cinema (1994): Quando o diretor Michele Soavi decidiu adaptar o livro para o cinema, quem ele escalou para o papel principal? O próprio Rupert Everett.
Portanto, a união não foi planejada. Anos depois de servir como modelo (sem saber) para o personagem de quadrinhos mais famoso da Itália, o mesmo ator foi escalado para interpretar outro herói trágico saído da mente do mesmo autor. É uma união cósmica perfeita, não por design, mas por um acaso genial do destino.
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Similaridades Entre os Universos
Ambos os personagens compartilham características além da aparência visual. Francesco Dellamorte, como Dylan Dog, é um investigador de fenômenos sobrenaturais forçado a lidar com o lado oculto da realidade que a maioria das pessoas ignora. Ambos possuem um assistente peculiar e memorável: enquanto Dylan Dog tem Groucho Marx em sua companhia nos quadrinhos, Francesco tem Gnaghi, cuja caracterização foi deliberadamente baseada em Curly dos Três Patetas, criando um paralelo visual e temático.
Amor, Morte e Paixão Italiana
É nesse cenário macabro que a trama se aprofunda. Francesco se apaixona perdidamente por uma bela viúva (interpretada por Anna Falchi) logo após enterrar seu marido. A partir daí, a paixão explode em cenas que mesclam o erotismo e o grotesco, com um vislumbre do cinema clássico italiano e seu tempero único. A história de amor deles é o catalisador para que a sanidade de Francesco comece a desmoronar, mergulhando o filme em um espiral de surrealismo e questionamentos existenciais.

Um dos momentos mais memoráveis ocorre quando Francesco convida a viúva a visitar o ossário (cripta contendo ossos de pessoas falecidas) do cemitério. Esta cena é estratégica tanto narrativamente quanto simbolicamente: enquanto consumam sua relação sobre a campa do marido dela, o esposo ressuscita e a morde. O contraste entre desejo sexual e morte, entre vida e regressão, forma o núcleo temático do filme.
A Influência de Dario Argento e o Estilo Visual
Michele Soavi foi assistente e pupilo do mestre do terror italiano Dario Argento, tendo trabalhado como segunda unidade no clássico Tenebre (1982). A influência visual de Argento é nítida em Cemetery Man, com seu uso de cores saturadas, enquadramentos incomuns e uma atmosfera onírica perturbadora. No entanto, Soavi cria uma atmosfera poética e melancólica que é distintamente sua.
O próprio snow globe (globo de neve) que aparece na abertura do filme tornou-se uma marca visual recorrente em toda a obra de Soavi. Este motif é utilizado como uma metáfora para o isolamento e a prisão dentro de mundos construídos, aparecendo também em seus outros filmes como The Church (1989) e La Setta (1991).
Easter Eggs e Curiosidades Visuais
O Spiral Motif: Um dos easter eggs mais sofisticados do filme é o uso recorrente do motif espiral. Quando Dellamorte confessa seus crimes em uma delegacia de polícia, ele está posicionado em uma escada em espiral, sugerindo não apenas sua sanidade frágil, mas também a natureza cíclica e obsessiva do filme como um todo. Esta composição é deliberada, pois as espirais representam tanto o declínio psicológico quanto a natureza fractal e repetitiva da realidade dentro do filme.
O Ossário Real: O ossário utilizado na produção era genuinamente real e continha ossos de verdade. Supostamente, um membro da equipe de produção removeu alguns ossos durante a filmagem, adicionando um nível macabro de autenticidade ao já perturbador cenário.
A Diretoria Telefônica: Um dos hobbies mais bizarros de Francesco é riscar os nomes dos mortos em diretórios telefônicos ultrapassados. Este elemento aparentemente menor é na verdade um detalhe simbólico que reflete a obsessão de Francesco com o apagamento da identidade, a inutilidade e a passagem do tempo.
Referências Visuais a Filmes Clássicos: O filme contém múltiplas alusões ao cinema de horror clássico. A composição cinematográfica de Soavi, especialmente durante cenas de violência gráfica, ecoam o estilo de Peter Jackson (em Evil Dead) e Sam Raimi, enquanto mantém a sofisticação visual do giallo italiano.
A Reencarnação da Viúva: A mulher pela qual Francesco se apaixona reaparece repetidamente, encarnada em diferentes mulheres que o assombram ao longo do filme. Este não é um acaso narrativo, mas uma metáfora visual sobre a obsessão e a incapacidade de Francesco escapar do ciclo de atração-rejeição-morte.
O Final Enigmático de DellaMorte DellAmore
Sem entregar muitos spoilers, o desfecho do filme é um dos mais discutidos e enigmáticos do gênero. Ele abandona qualquer lógica convencional e nos presenteia com uma cena final que te deixará pensando por dias. Quando Dellamorte conversa com uma estátua do cemitério transformada no Ceifador (Grim Reaper), é-lhe dito que ele “não compreende nada”. É a partir deste ponto que o filme força tanto Dellamorte quanto o espectador a questionar quanto daquilo que vimos realmente ocorreu.
A conclusão é uma alegoria sobre a vida, a morte e a busca por sentido, sugerindo que Francesco habita um universo cinematográfico construído que ele não consegue escapar porque o mundo exterior ainda não foi “escrito” para existir. É uma conclusão que eleva Cemetery Man de um simples filme de zumbi para uma complexa meditação sobre as limitações da narrativa, a realidade da ficção e o determinismo existencial.
Para quem já assistiu, o que achou do final? Ele também te deixou com aquela pulga atrás da orelha, questionando tudo o que viu? Compartilhe suas teorias nos comentários!
Curiosidades e Fatos Marcantes
A Benção de Scorsese: O lendário diretor Martin Scorsese é um grande fã do filme. Ele o declarou publicamente como “um dos melhores filmes italianos dos anos 90”.
Herdeiro de Argento: O diretor Michele Soavi foi assistente e pupilo do mestre do terror italiano, Dario Argento. A influência visual de Argento é nítida, mas Soavi cria uma atmosfera poética e melancólica que é só sua.
Cult por Acidente: O filme teve uma distribuição muito conturbada nos Estados Unidos, o que dificultou seu acesso na época. Apenas 28 cópias foram distribuídas domesticamente em 1996, com estreia limitada em 26 de abril. Isso, combinado com sua natureza bizarra, ajudou a solidificar seu status de “clássico cult” ao longo dos anos, descoberto por fãs através de home video e depois por plataformas de streaming.
O Nome do Coveiro: O nome do protagonista, Francesco Dellamorte, pode ser traduzido literalmente como “Francisco da Morte”, um nome perfeitamente adequado para sua profissão e seus dilemas existenciais. Curiosamente, a mãe de Francesco tinha o sobrenome de solteira “Dellamore”, criando um jogo de palavras que conecta a morte (Morte) com o amor (Amore) através da genealogia familiar.
A Trilha Sonora Única: A música foi composta por Riccardo Biseo com arranjos sintetizados que evocam o estilo onírico do cinema italiano dos anos 80 e 90. A trilha oscila entre melodias melancólicas e momentos grotescos, intensificando a sensação de estranhamento que permeia todo o filme.
A Recusa de Refilmagem: Após Rupert Everett fazer sucesso nos Estados Unidos com Meu Melhor Amigo Casou (My Best Friend’s Wedding, 1997), ele supostamente perguntou a Michele Soavi se gostaria de fazer um remake de Cemetery Man com um orçamento maior. Soavi recusou categoricamente, mantendo a obra como um produto singular e irrepetível.
Formatos Disponíveis em Mídia Física
Encontrar edições mais antigas em DVD ou Blu-ray pode ser uma tarefa difícil de colecionador, pois muitas estão fora de catálogo. No entanto, para a felicidade dos fãs, o filme recebeu um tratamento de luxo recentemente.
4K Ultra HD Blu-ray: A versão definitiva do filme foi lançada pela Severin Films (nos EUA) e outras distribuidoras boutique na Europa. Essa edição conta com uma restauração completa em 4K a partir do negativo original do filme, oferecendo a melhor qualidade de imagem e som já disponível.
Conteúdo e Bônus
Disco 1: 4K UHD (Longa-metragem + Especiais)
- Comentários em Áudio da Diretora Michele Soavi e do Roteirista Gianni Romoli
- Trailers
Disco 2: Blu-ray (Longa-metragem + Especiais)
- Comentários em Áudio da Diretora Michele Soavi e do Roteirista Gianni Romoli
- At The Graves – Entrevista com Michele Soavi
- Of Love And Death – Entrevista com o Ator Rupert Everett
- She – Entrevista com a Atriz Anna Falchi
- Arquivo de Making-of
Disco 3: Blu-ray (Especiais Adicionais)
- A Matter Of Life And Death – Entrevista com Gianni Romoli
- Graveyard Shift – Entrevista com o Diretor de Fotografia Mauro Marchetti
- Head Over Heels – Entrevista com a Atriz Fabiana Formica
- The Living Dead Mayor – Entrevista com o Ator Stefano Masciarelli
- The Music From The Underground – Entrevista com o Compositor Riccardo Biseo
- Resurrection – Entrevista com o Artista de Efeitos Especiais Sergio Stivaletti
- Cemetery Gates – Entrevista com o Cenógrafo Antonello Geleng
- Grave Encounters – Entrevista com Alan Jones, Autor de Profondo Argento
- Trailers
Disco 4: CD da Trilha Sonora
- Livreto Exclusivo de Claire Donner, do Instituto Miskatonic de Estudos do Terror
- Arte da Capa e da Caixa por Eric Lee




























